sexta-feira, 19 de novembro de 2010

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Palmares Palmares meu amor
Pequena antologia de poetas afro-brasileiros em homenagem
ao Zumbi de Palmares, no tricentenário de sua morte.
Organizada por Heitor Martins.
ZUMBI E TIRADENTES

Temos dois heróis no Brasil: Zumbi dos Palmares e Tiradentes.
Ambos representam os mesmos valores, os mesmos desejos,
o mesmo sacrifício fundamental. São heróis não porque tenham
vencido batalhas - ambos foram derrotados e punidos com a morte.

Ambos saem do mais profundo do povo brasileiro, até mesmo na
vulgaridade absoluta de seus nomes. Ambos têm uma biografia sem
importância no cômputo geral da História.

Mais do que seres de carne e osso são símbolos de uma nacionalidade
que se está formando e por cujos valores tiveram sacrificada a vida.


O que há de positivo nestes valores é que deve interessar-nos: o desejo absoluto de liberdade
ao preço da própria vida - esta é a lição de Zumbi e do Tiradentes.

Não são os detalhes do que ambos foram quando estavam vivos que dão sinal de sua
importância. Como todos nós, devem ter tido suas "fraquezas": seus problemas amorosos
e familiares, seus pequenos deslizes econômicos, as dí;vidas que deixaram de ser pagas,
a palavra excessiva dita num momento de cólera - tudo é parte de sua humanidade.

O que os cinge de uma luz diferente e mais clara é o que representam para um povo
que se está criando ainda, e que é também o melhor pedaço do que todos somos:
o nosso desejo de afirmação, a nossa esperança de que num futuro que nos espera
aí adiante vamos ser todos iguais e livres. Comemorar Zumbi dos Palmares (e Tiradentes)
num país em que cada dia estes ideais parecem mais distantes pode parecer ato de
gratuita futilidade ou frivolidade. Creio que não. O que é preciso é dar-lhes o valor real
de seu símbolo, sem distorções que procurem apenas encobrir a realidade de seu sacrifício.

Que não se transformem em comendas distribuídas por um estamento político hipócrita
e perverso - que não os usemos como nomes de fundações oficiais e de medalhas coloridas
- mas continuem com a profunda representatividade que seus nomes indicam.

Como fazer isto? Talvez apenas pela lembrança de que o início de consciencialização que
representam é um processo em continuidade. A liberdade política com que Tiradentes
sonhava, amordaçada então pelo "quinto" que os colonos pagavam à Metrópole, ainda se
encontra presa aos juros da dívida externa; a igualitária República de Palmares de Zumbi
ainda é apenas sonho para os que vivem nas senzalas dos morros de favelas e dos cortiços
da miséria de hoje.

[Esta pequena seleção de poetas afro-brasileiros foi feita no ano tricentenário