segunda-feira, 21 de março de 2016

As Unificações e o Imperialismo no Século XIX

No final do século XVIII e início do XIX, no contexto da Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte procurou difundir os ideais da revolução por toda a Europa. Para isso, Napoleão conquistou países na Europa. Senhor do continente, Napoleão disseminava pelos países conquistados os ideais liberais franceses.

Contudo, os países europeus entraram em confronto direto contra Napoleão e a França, principalmente a Inglaterra, que via na França uma possível rival no continente ao seu poderio militar e industrial.

Em 1813, Napoleão fora derrotado por uma coligação de países europeus (Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia). Após a derrota de Napoleão, as grandes potências européias - Áustria, Inglaterra, Rússia, Prússia e a França restaurada - reuniram-se em Viena (Áustria), numa convenção internacional a fim de restabelecer a situação política européia anterior à Revolução Francesa. Foi o Congresso de Viena, que buscou restaurar a monarquia nos países europeus conquistados por Napoleão e reinstalar a aristocracia no poder. Paralelamente, propunha também restabelecer as fronteiras nacionais na Europa neste mesmo período.

A Unificação Italiana

Imbuída de forte sentimento nacionalista despertado pelas divisões impostas pelo Congresso de Viena, que ocorrera após a derrota de Napoleão Bonaparte para a redefinição territorial européia, a Itália, aceleraria sua política de unificação no século XIX.

Duas correntes se destacaram nas lutas de 1848: os republicanos, liderados por Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi, e os monarquistas, liderados pelo conde Camilo Cavour. Os últimos tomaram a liderança das lutas pela unificação a partir do reino do Piemonte-Sardenha, Estado italiano independente, industrializado e progressista, governado por Vítor Emanuel II.

Em 1860, os “camisas vermelhas” de Garibaldi – forças populares republicanas –, conquistaram os Estados Pontifícios, libertaram a Sicília e o sul da Itália, governados pelo monarca absolutista da família Bourbon, Francisco II.



Com a ajuda de Napoleão III, o Piemonte anexou vários territórios italianos ao norte que estavam sob tutela dos austríacos. Em 1870, durante a Guerra Franco-Prussiana, quando a França abandonou Roma para enfrentar os alemães, as forças de unificação invadiram Roma, transformando-a na capital italiana. Em 1871, Vitor Emanuel, transferiria-se para Roma completando o processo de unificação.

A mensagem do rei Vitor Emanuel ao Parlamento
“Senadores e Deputados, Senhores:
A tarefa a que consagramos nossa vida está terminada. Depois de longos sofrimentos de expiação a Itália se restaurou, bem como Roma. Aqui, onde nosso povo, depois de séculos de separação, encontra-se pela primeira vez reunido na pessoa de seus representantes; aqui, onde reconhecemos a mãe-pátria de nossos sonhos, tudo nos fala de grandeza; mas, ao mesmo tempo, lembra-nos nossos deveres.
(...)
Um brilhante futuro se abre diante de nós. Cabe-nos corresponder às bênçãos da Providência, mostrando-nos dignos de levar entre as nações os gloriosos nomes de Itália e Roma.”
(Vítor Emanuel e a Unificação da Itália. In: RIBEIRO, Pedro. Grande História Universal. Rio de Janeiro: Bloch Editores S.A., 1973. fasc 34.)

A Unificação Alemã

Até meados do século XIX, a Alemanha não compreendia uma nação unificada. O território da atual Alemanha era composta por 39 Estados soberanos, tendo na liderança o império Austríaco, que se contrapunha à Prússia, mais desenvolvida comercial e industrialmente.

O Congresso de Viena formou no que hoje compreende a atual Alemanha a Confederação Germânica (Deutscher Bund).

Hegel (1770-1831), a filosofia alemã e a nação

“(...) o espírito de um povo [volkgeist]: é um espírito de características muito bem definidas, que se constrói em um mundo objetivo. Este mundo existe e permanece em sua religião, seu culto, seus costumes, sua constituição e suas leis políticas em toda a esfera de suas instituições, seus acontecimentos e seus feitos. Esta é o seu trabalho: um povo, é isso que é uma nação! Os povos são o que são os seus feitos. (...) A função do indivíduo é apossar-se de sua existência material, tornando-a parte de seu caráter e de sua capacidade, fazendo com que dessa maneira ele tenha um lugar no mundo. Ele descobre a existência do povo a que pertence como um mundo já estabelecido, um mundo estável, a que deve adaptar-se.”
(HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. O curso da história do mundo: A dialética dos princípios nacionais. In: HARTMAN, Robert S. (org.). A razão na história. São Paulo: Editora Moraes Ltda, 1990. p. 125.)

O passo fundamental para a unidade alemã foi a criação do Zollverein (1834) – união alfandegária –, que derrubou as barreiras aduaneiras entre os Estados alemães, proporcionando uma união econômica dinamizando o capitalismo alemão.


O hino nacional da Alemanha foi escrito pelo poeta August Heinrich von Fallersleben, em 1841, no contexto da luta pela unificação alemã e, desta forma, reflete muito bem as aspirações de unidade nacional dos alemães.

Deutschland, Deutschland über alles, Über alles in der Welt
(Alemanha, Alemanha sobre tudo, Sobre tudo no mundo)

Unidade e Justiça e Liberdade
à Pátria Alemã!
Procuremos, irmanados,
alcançá-las com afã!
Unidade e Justiça e Liberdade
são o penhor da felicidade.
Floresce, no esplendor desta felicidade,
Floresce, ó Pátria Alemã!

A Prússia iniciou a partir de 1860 a aplicação de um plano de modernização militar sustentado pela aliança entre a alta burguesia com os grandes proprietários e aristocratas – os junkers.

Tendo à frente o chanceler Otto Von Bismarck, a Prússia visava exaltar o espírito nacionalista alemão através de sua participação em guerras. A primeira delas foi a Guerra dos Ducados contra a Dinamarca (1864), onde a Prússia lutou para anexar os ducados de Schleswig e de Holstein de população alemã, até então pertencente à Dinamarca.




Os Estados do norte reorganizaram-se na Confederação Germânica do Norte sob a liderança do kaiser Guilherme I Hohenzolern, de quem Bismarck era ministro. Outro empecilho à unificação completa da Alemanha era Napoleão III, que se opunha à emergência de uma grande potência nas fronteiras da França.

Bismarck forjou então um estado de guerra entre França e Prússia, alterando o texto de um despacho de Guilherme I ao embaixador da frança, tomado como um insulto à França; foi a causa imediata da declaração de guerra de Napoleão III.

Esta foi a Guerra Franco-Prussiana, vencida pela Prússia, o que possibilitou a criação do Segundo Reich (Império) alemão, completando o processo de unificação alemão.

com a unificação, a Alemanha cresceu vertiginosamene, a ponto de, em 1900, superar a Inglaterra na produção de aço. O desenvolvimento industrial alemão colocou em risco a hegemonia britânica mundial, causando sucessivos atritos. A Alemanha logo exigiu uma revisão colonial no mundo. Era a era dos Impérios.

O Imperialismo no Século XIX

Na segunda metade do século XIX, intensificou-se o processo de expansão imperialista que se estenderia até o início do século XX. Esse processo levou à partilha dos continentes africano e asiático.

O neocolonialismo, por sua vez, necessitava de mercados consumidores de manufaturados e fornecedores de matérias-primas, além de as grandes potências buscarem colônias para a colocação de seu excedente populacional.

A política colonizadora imperialista fundamentou-se na “diplomacia do canhão”, ou seja, foi conseguida pela força. Também havia um ideal justificador: os dominadores eram portadores de uma “missão civilizadora, humanitária e cultural”. Isto, fruto dos preconceitos do homem ocidental, fundamentados nas idéias de superioridade do homem branco.

A forma de dominação era realizada pela administração direta, com a ocupação dos colonizadores dos principais cargos dos governos dos países dominados por agentes metropolitanos, ou indireta, por meio de alianças com as elites locais.

As disputas entre potências por áreas coloniais agravaram conflitos e estimularam o armamentismo, o que levou à formação de blocos de países rivais, que criaria a conjuntura da Primeira Guerra Mundial (1914).

A partilha da África se deu através na Conferência de Berlim (1884), da qual participaram quatorze países europeus, Estados Unidos e a Rússia.


A França dominava a Argélia, Tunísia, o Marrocos, o Sudão, a ilha de Madagascar e a Somália francesa. A Inglaterra, ficaria com boa parte do sul da África. A Alemanha conquistou o Camerun (atual República dos Camarões), O Togo e o sudeste da África. A Itália tomou o litoral da Líbia e territórios da Somália. A Bélgica tomou o Congo.


Neocolonialismo. Ingleses em esfinge no Egito, marca domínio inglês na África, século XIX.

As nações européias impuseram seu domínio direto também à Ásia e à Oceania. Em relação à Índia, os portugueses foram os primeiros europeus a chegar neste país, com Vasco da Gama em 1498. Contudo o predomínio sobre a região coube à Inglaterra, que se apossou definitivamente da Índia em 1763.


Neocolonialismo. Ingles le cartas servido por indianos, início do século XX.

A presença inglesa despertou o nacionalismo indiano, que culminou na Guerra dos Cipaios (soldados indianos), em 1857. Os revoltosos foram sufocados em 1859 e a Índia passou a ser colônia britânica.

No Japão, os primeiros europeus a chegar a este país foram os portugueses, em 1542, seguidos pelos espanhóis, organizando diversas missões jesuíticas de catequização na região. A partir de 1648, o Japão fecha seus portos aos estrangeiros e se isola do restante do mundo.

Em 1854, os Estados Unidos forçou a abertura dos portos japonesa ao comércio mundial sob ameaças militares, iniciando acordos comerciais entre Estados Unidos e Europa com os japoneses. A abertura comercial japonesa provocou o inicio da europeização do país.

Na China, a penetração dominadora da Europa, Estados Unidos e do Japão realizou-se através de diversas guerras, dentre elas a Guerra do Ópio (1841).

Os ingleses produziam a droga do ópio em abundancia na Índia, forçaram um mercado consumidor na China, disseminando o vício entre os chineses.

Em 1839, as autoridades chinesas jogaram 20 mil caixas de ópio ao mar. A Inglaterra exigiu indenização, como esta não foi paga, declarou guerra à China, iniciando a Guerra do Ópio. Em 1842, derrotada, a China assinou o Tratado de Nanquim, abrindo seus portos ao livre comércio e entregando a ilha de Hong Kong à Inglaterra (esta devolvida à China somente em 1997).

Houve ainda na China a Guerra dos Boxers (1900). Os “punhos fechados” ou boxers eram chineses nacionalistas radicais que objetivavam libertar o país. Em 1900, rebelaram-se, matando mais de duzentos estrangeiros. Uma força expedicionária internacional, composta por ingleses, franceses, alemães, russos, japoneses e norte-americanos, invadiu a China, subjugando o país às potências imperialistas.

Nações e nacionalismo

Na recente Enciclopédia Brasileira Mérito, a nação é “a comunidade de cidadãos de um Estado, vivendo sob o mesmo regime ou governo e tendo uma comunhão de interesses; a coletividade de habitantes de um território com tradições, aspirações e interesses comuns, subordinadas a um poder central que se encarrega de manter a unidade do grupo; o povo de um Estado, excluindo o poder governamental.”

Como em outros lugares, a palavra desenvolveu-se para descrever grandes grupos fechados, como guildas e outras corporações, que necessitavam ser diferenciados de outros com os quais coexistiam: daí as “nações” aparecerem como sinônimo de estrangeiro.

O significado fundamental de “nação”, e também o mais freqüentemente ventilado na literatura, era político. Equalizava “o povo” e o Estado à maneira das revoluções francesa e americana, uma equalização que soa familiar em expressões como “Estado-Nação”, “Nações-Unidas”...

A equação nação = Estado = povo e, especialmente, povo soberano, vinculou indubitavelmente a nação ao território, pois a estrutura e a definição dos Estados eram agora essencialmente territoriais. Implicava também uma multiplicidade de Estados-nações assim constituídos, e de fato isso era uma conseqüência da autodeterminação popular.

(HOBSBAWM, Eric. A nação como novidade: da revolução ao liberalismo. In: Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. pp. 27-32.)

Movimento das nacionalidades

O movimento das nacionalidades supõe ao mesmo tempo a existência de nacionalidades e o despertar do sentimento de que se faz parte dessas nacionalidades.

O movimento das nacionalidades no século XIX foi em parte obra de intelectuais, graças ao escritores que contribuem para o renascer do sentimento nacional; graças aos lingüistas, filólogos e gramáticos, que reconstituem as línguas nacionais; graças aos historiadores, que procuram encontrar o passado esquecido da nacionalidade...

Com efeito, os interesses entram em ação quando, por exemplo, o desenvolvimento da economia apela para o excesso dos particularismos, para a realização da unidade. É assim que devemos encarar o lugar do Zollverein na unificação alemã. Na Itália, é a burguesia comerciante ou industrial que deseja a unificação do país, pois vê nessa idéia a possibilidade de um mercado maior e de um nível devida mais elevado.

Política e economia interferem estreitamente, e é justamente essa interação que constitui a força de atração da idéia nacional pois, dirigindo-se ao homem em sua integridade, ela pode mobilizar todas as faculdades a serviço de uma grande obra a ser realizada, de um projeto capaz de despertar energias e de inflamar os espírito.

Para a Itália e a Alemanha, o século XIX é o século de sua futura unidade.

(RÉMOND, René. O Século XIX – 1815-1914. São Paulo: Cultrix, 1976, v. 2. pp. 149-152.)

Imperialismo

O Usurpador

É impossível, finalmente, que não verifique a ilegitimidade constante de sua situação. Ilegitimidade que, além disso, é de certa maneira dupla. Estrangeiro, chegado a um país pelos acasos da história, conseguiu não apenas um lugar, mas tornar o do habitante, e outorgar-se privilégios surpreendentes em detrimento dos que eles tinham direito. E isso, não em virtude das leis locais, que legitimam de certo modo a desigualdade pela tradição, mas subvertendo normas vigentes e substituindo-as pelas suas.

Revela-se assim duplamente injusto: é um privilegiado e um privilegiado não legitimo, quer dizer, um usurpador. E, finalmente, não apenas aos olhos do colonizado, mas aos seus próprios olhos. (...) Sabe também que os colonizados mais favorecidos serão sempre colonizados, isto é, que certos direitos serão eternamente recusados, que certas vantagens lhes serão estritamente reservadas. Em resumo, a seus olhos como aos olhos de sua vítima, sabe-se usurpador: é preciso que se acomode com esses olhares e com tal situação.

O Colonizado

O que é verdadeiramente o colonizado importa pouco ao colonizador. Longe de querer apreender o colonizado na sua realidade, preocupa-se em submetê-lo a essa indispensável transformação.

Consiste, inicialmente, em uma série de negações. O colonizado não é isso, não é aquilo. Jamais é considerado positivamente; ou se o é, a qualidade concedida procede de uma lacuna psicológica ou ética.

Assim, se destroem, uma após outra, todas as qualidades que fazem do colonizado um homem. E a humanidade do colonizado, recusada pelo colonizador, torna-se para ele, com efeito, opaca.

Outro sinal dessa despersonalização do colonizado: o que se poderia chamar a marca do plural. O colonizado jamais é caracterizado de maneira diferencial: só tem direito ao afogamento no coletivo anônimo (“Eles são isso... Eles são todos os mesmos”).

Enfim, o colonizador nega ao colonizado o direito mais precioso reconhecido à maioria dos homens: a liberdade. As condições de vida, dadas ao colonizado pela colonização, não a levam em conta, nem mesmo a supõem. O colonizado não dispõe de saída alguma para deixar seu estado de infelicidade: nem jurídica (a naturalização) nem mística (a conversão religiosa): o colonizado não é livre de escolher-se colonizado ou não colonizado.

(MEMMI, Albert. Retrato do Colonizado Precedido pelo Retrato do Colonizador. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967. pp. 21-26 e 80-83.
Agradecimentos: Prof. Leonardo Castro.
http://novahistorianet.blogspot.com.br/2009/01/as-unificaes-e-o-imperialismo-no-sculo.html







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