Exercícios - Imperialismo.
Exercício 1:
A caricatura abaixo representa de forma satírica a expansão imperialista na Ásia por parte dos Estados Unidos (tio Sam), da Grã Bretanha (leão), da França (galo), da Alemanha (águia imperial germânica) e da Rússia (urso siberiano). Com base em seus conhecimentos e a partir da imagem, é possível afirmar que ela se refere:
A)
à disputa pela Coréia, na primeira guerra sino-japonesa (1894/95) e na guerra entre Japão e o Império Russo (1905).
B)
à divisão de parte da China em áreas de influência européia, bem como à reivindicação americana de também se beneficiar com a abertura dos portos chineses.
C)
à Revolta dos Cipaios, sufocada pelas potências européias e pelo Japão no século XIX, de modo a abrir caminho para a penetração imperialista na China.
D)
à imposição de tratados desiguais à China (como o Tratado de Nanquim) por meio de ameaça de bombardeio por parte do navio US Mississipi do Comodoro Perry (1853), com o objetivo de forçar a abertura dos portos daquele país.
E)
à força expedicionária de várias nações que sufoca o levante dos Boxers (1900/1901), derruba o governo Manchu e estabelece uma República.
Exercício 2:
“...Nós conquistamos a África pelas armas...temos direito de nos glorificarmos, pois após ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja existência no século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora
temos outra missão não menos meritória, de fazer penetrar a civilização num continente que ficou para trás...” (“ Da influência civilizadora das ciências aplicadas às artes e às indústrias”. Revue Scientifique, 1889)
A partir da citação acima e de seus conhecimentos acerca do tema, examine as afirmativas abaixo.
I - A idéia de levar a civilização aos povos considerados bárbaros estava presente no discurso dos que defendiam a política imperialista.
II - Aquela não era a primeira vez que o continente africano era alvo dos interesses europeus.
III - Uma das preocupações dos países, como a França, que participavam da expansão imperialista, era justificar a ocupação dos territórios apresentando os melhoramentos materiais que beneficiariam as populações nativas.
IV - Para os editores da Revue Scientifique (Revista Científica), civilizar consistia em retirar o continente africano da condição de atraso em relação à Europa.
Assinale a alternativa correta:
A)
Somente a afirmativa IV está correta.
B)
Somente as afirmativas II e IV estão corretas.
C)
Somente as afirmativas I e III estão corretas.
D)
Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
E)
Todas as afirmativas estão corretas.
Exercício 3:
No decorrer do século XIX, as grandes potências européias lançaram-se à conquista colonial da África e da Ásia. Sobre a ocupação da África e suas conseqüências, é incorreto afirmar:
A)
A violência em que se deu a colonização provocou grandes distorções nas estruturas econômicas, sociais e culturais dos territórios dominados. Intrigas entre etnias foram estimuladas e antigos reinos destruídos, vencidos pela superioridade militar dos colonizadores.
B)
Os europeus demarcaram fronteiras, confiscaram terras, forçaram grupos nômades a fixar-se em territórios específicos. Em conseqüência disso, os Estados africanos atuais, na sua maioria, não têm a mesma unidade cultural, linguística e social.
C)
A ocupação do território africano destruiu estruturas tradicionais; a economia comunitária ou de subsistência foi totalmente desorganizada, pela introdução de cultivos e outras atividades, destinadas a atender exclusivamente às necessidades das metrópoles.
D)
A ocupação européia beneficiou o continente africano, pois possibilitou a inserção da África na economia capitalista mundial. Antes da colonização européia, a economia africana restringia-se a suprir as necessidades básicas de sua população; assim, os africanos viviam sob condições de vida bastante atrasadas.
E)
A ocupação das colônias criou sérios problemas (muitos ainda não resolvidos, mesmo na atualidade). Pode-se dizer que muitos dos conflitos étnicos que existem hoje na região são conseqüências da dominação colonial da África.
Exercício 4:
É incorreto afirmar, sobre o imperialismo do final do século XIX:
A)
A unificação de Itália e Alemanha não se relaciona com as políticas imperialistas do período.
B)
O Nacionalismo foi um dos suportes da política imperialista.
C)
"O sol nunca se põe no império Britânico" é uma expressão que nos fornece uma idéia sobre as extensões das políticas imperialistas.
D)
O imperialismo provocou aumento da pobreza, em países como a Índia.
E)
A política imperialista não ficou restrita à África.
Doenças infecto-contagiosas relacionadas as carências habitacionais na cidade de Londrina-Paraná - Brasil (Resumo)
Através deste trabalho pretendemos levantar alguns elementos sobre a segregação espacial dos processos de saúde-doença. Buscamos analisar a espacialização da esquistossomose e hepatite A na área urbana do município de Londrina (Paraná - Brasil), ambas doenças de veiculação hídrica. Além disso, visamos relacionar a distribuição espacial desses agravos à saúde humana em espaços intra-urbanos às micro áreas com grandes carências habitacionais, ocupadas ilegalmente.
Palavras chaves: ocupações urbanas irregulares, Londrina, hepatite, esquistossomose.
Meio ambiente e saúde: evolução através dos tempos
Essa relação entre meio ambiente e aquisição de doenças é estudada e conhecida desde a Antigüidade. As civilizações antigas explicavam os acontecimentos sob o ponto de vista do pensamento mágico e sobrenatural. Hipócrates, considerado o pai da medicina científica, foi quem primeiro sugeriu que o desenvolvimento da doença humana poderia estar relacionada a características pessoais e ambientais. Foram Hipócrates e seus seguidores, segundo Sevalho (1993:350), com sua perspectiva humoral, "que estabeleceram de modo mais evidente no Ocidente uma passagem do sobrenatural para o natural no que diz respeito às representações de saúde e doença".
Em sua obra "Sobre os Ares, Águas e Lugares", Hipócrates identificava a influência da localização geográfica e dos elementos físicos (clima, disponibilidade, qualidade e facilidade de acesso à água, presença de vegetação), à saúde e estereotipo dos habitantes de cada lugar. Ele tratou da "teoria dos humores" em que seriam os "humores do corpo que causam doenças, e seus elementos: fogo (coração), ar (pituíta do cérebro), terra (bile amarela) e água (bile negra do estômago)" (GUTIERREZ & OBERDIEK, 2001:05). Segundo estes mesmos autores, Hipócrates ressaltava a importância de se conhecer as peculiaridades de cada lugar, para se fazer uma correta investigação das doenças. Destacava ainda a importância de se conhecer os ventos e de se considerar as temperaturas atmosféricas, bem como observar a sua sazonalidade durante o ano. Em relação à água, se preocupou com a observação da sua qualidade e quantidade em cada lugar e sugeriu a análise de sua proveniência. Muitas de suas preocupações ainda são atuais, quando os gestores públicos de controle de endemias pretendem estudar as causas e maneiras de minimizar e erradicar alguns agravos à saúde coletiva.
Gutierrez e Oberdiek (2001:07) afirmam que, com o advento do Cristianismo, a causa mais difundida das moléstias foi a consideração do pecado como o responsável pelos males físicos, como castigos justos e vindos de Deus. Segundo esses autores, durante a época feudal, e também tempo das Cruzadas, a medicina medieval ocidental foi basicamente uma medicina patrística. Geralmente eram os padres que zelavam por temas ligados à medicina e pelo seu ensino em disciplinas. Embora a "teoria dos humores" estivesse presente nos tratados médicos árabes ela não teve o mesmo destaque na medicina cristã ocidental.
Para os pagãos, a doença era a possessão do demônio e feitiçaria ("doença-maldição") e, para os cristãos, era sinal de purificação e expiação de pecados ("doença-punição"). Houve, portanto, um retrocesso na identificação entre a doença e o ambiente num período em que as epidemias aconteceram. O deslocamento populacional ou o comércio colocaram populações distantes em contato, sendo eles os responsáveis pelas epidemias de caráter ampliado, como a "peste negra".
Sevalho (1993) afirma que "o medo e a culpabilidade sempre participaram da relação do ser humano com a doença, conformando permanências culturais". Segundo o autor, a sífilis, com seu caráter venéreo e a presente epidemia de AIDS, inicialmente entre homossexuais masculinos e usuários de drogas endovenosas, trouxeram à tona uma série de preconceitos morais.
Somente alguns séculos mais tarde, de acordo com Medronho (2000:05), "o raciocínio epidemiológico surgiu no século XVII diante das epidemias que assolavam a Europa". Nessa época, havia a teoria miasmática ("a essência da doença se transmitiria pelo ar") que foi útil para combater a malária ("maus ares"), apesar da concepção equivocada sobre a forma de aquisição da doença, e para a urbanização das cidades. Na Itália, Lancisi (1654-1720) afirmava que as temperaturas elevadas da época estival produziam uma "destilação química" das águas pantanosas, e que os eflúvios voláteis decorrentes desse processo transportados pelos ventos causavam enfermidades, segundo relata Urteaga (1980 : 03). Naquele momento histórico já havia a concepção de que as condições sanitárias ruins criavam um estado atmosférico local que causador de doenças infecciosas e surtos epidêmicos.
O primeiro tratado de Geografia Médica é atribuído a Finke, em 1792, onde foram abordadas as questões sobre a "vida humana no seu meio social, investigando a ação dos fatores ambientais sobre a saúde do homem".
O termo epidemiologia foi cunhado por Juan de Villalba, em 1802, relacionando ao histórico das epidemias espanholas. Em 1839, o trabalho de Willian Farr sobre o registro anual de mortalidade e morbidade para a Inglaterra e País de Gales marcou a institucionalização da estatística médica.
Segundo Lacaz (1972:09), "em 1843 Boudin publicava seus Ensaios de Geografia Médica, mostrando que na doença e até na morte tudo varia com o clima e o próprio solo. Tais manifestações variadas, de vida e de morte, de saúde e de moléstia, constituem o objeto principal da medicina geográfica".
Em 1855, os estudos de John Snow sobre a epidemia de cólera em Londres e sua associação com a rede de distribuição de água introduziram alguns conceitos importantes como coeficiente e incidência.
Entre 1870 e 1920 houve uma verdadeira luta contra as doenças infecciosas e, graças a ela pôde-se aumentar, progressivamente, a expectativa de vida das pessoas.
Na segunda metade do século XIX a morte por doenças infecciosas, principal causa de óbito da época, começou a diminuir devido ao aumento de suprimentos alimentares e às intervenções da saúde pública, incluindo a vigilância sanitária e a vacinação.
A partir da "era industrial" no século XIX aconteceu nas cidades europeias uma revolução na Saúde Pública. Os planos de urbanização em grandes cidades foram conjugados à abertura de novos bairros e ao início da implantação de infra-estrutura em relação à água tratada e ao esgoto em pequenas áreas nas cidades. Concomitantemente, surgiram outros problemas, como a deposição de detritos industriais e a poluição, causada pela liberação no ar e na água de substâncias tóxicas. Entre os problemas devemos considerar também a pobreza crescente e a superpopulação urbana que deteriorava a vida na cidade a cada ano, segundo registros do Bulletin of the World Health Organization (2000).
À medida que a industrialização se intensificava, o mesmo ocorria com a poluição, principalmente nas áreas urbanas. As cidades geralmente não estavam equipadas, principalmente nos países menos desenvolvidos, para oferecer saneamento básico ao contingente populacional que migrava para as áreas urbanas. O abastecimento de água de boa qualidade e serviço esgotos, a coleta de lixo, moradias em lugares adequados do ponto de vista sanitário e demais serviços públicos de infra-estrutura pré-existentes tornam-se insuficientes diante da crescente urbanização. Tais fatores contribuíram, e contribuem, para a proliferação de vetores e hospedeiros intermediários de determinadas doenças.
A aglomeração populacional nos centros urbanos aumenta a suscetividade do contágio das doenças transmissíveis, o que, em vários casos, explica a maior incidência destas doenças na zona urbana, se comparada à zona rural.
As cidades brasileiras enfrentam sérios problemas quanto à carência de habitações adequadas, a oferta de saneamento, ao sistema de transportes e demais serviços e, inclusive, ao atendimento à saúde. Não devemos julgar que a migração para centros urbanos e a alta taxa de urbanização da população brasileira sejam as principais causas da disseminação de doenças infecto-contagiosas. Devemos atribuir a vários fatores a manutenção ou mesmo o aumento deste tipo de doenças em cidades médias e grandes. Entre eles estão o déficit de moradias e de serviços de infra-estrutura, a má distribuição de renda, os altos índices de desemprego ou subemprego, além é claro, o pouco investimento e, saneamento básico e outras medidas de saúde pública.
O reflexo da desigualdade sócio-econômica e da segregação espacial na saúde
É vasta a literatura que aborda os diferenciais na saúde como elemento condicionante e condicionado pelas desigualdades de uma sociedade.
A produção do espaço urbano pela ação humana gera problemas ambientais que advêm não apenas das relações entre a sociedade e a natureza, mas também das relações entre os homens.
Segundo Pereira (2001), a cidade é fruto do processo de desenvolvimento capitalista que é essencialmente desigual, com "ilhas" de riqueza e áreas urbanas miseráveis. As diferentes localidades apresentam diferentes valores associados à acessibilidade aos bens e serviços. Concomitantemente, a distribuição espacial da população se dá de acordo com sua capacidade financeira de adquirir lotes em localizações específicas e, através desse fato, ocorre a segregação social do espaço. Essa segregação é agravada pela especulação imobiliária, que ocorre estrategicamente para valorizar determinadas áreas.
Santos (1994) afirma que todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas com relação ao emprego, habitação, transporte, lazer, água, esgoto, educação e saúde. A disputa pelo espaço urbanizado ou território parcelado e dotado de equipamentos e serviços coletivos resulta na subdivisão do território da cidade em compartimentos destinados a diferentes estratos sociais - estratificação social do espaço legal, dos quais as melhores parcelas são ocupadas pelos mais ricos e, na maioria das cidades brasileiras, as piores parcelas ocupadas pelos mais pobres. Quando nos referimos ao espaço legal, não incluímos as áreas públicas e as de proteção ambiental, que também são ocupadas pelas populações de baixa ou sem renda. As ocupações ilegais ocorrem de maneira irregular, impulsionadas por diversos fatores que vão desde a facilidade de acesso aos aparatos públicos - escolas, postos de saúde, hospitais -, até a proximidade do mercado de trabalho, o que torna o gasto comtransporte mais acessível. As áreas ocupadas de maneira ilegal não são, necessariamente, áreas piores que as ocupadas pelas populações de melhores condições econômicas. Mas elas são, geralmente, áreas ambientalmente frágeis, que requerem bons projetos e muito dinheiro para que ocorra o menor impacto ambiental possível provocado pela ocupação. Como isso não é possível, uma vez que as populações de baixa renda não dispõem desses recursos técnicos e financeiros, não é raro observarmos acidentes com óbitos nessas áreas provocados por deslizamento de casas em encostas, enchentes, explosões em áreas com dutos de gases, etc. Nesse sentido, Castells (1972) observou que a estratificação do território tinha uma correspondência com a estratificação social.
Parte da população desprovida de condições econômicas suficientes para adquirir um local para construir sua habitação, passa a fazer uso do solo ilegalmente. É o contraste existente entre o recomendado e o possível.
Londrina: um caso concreto
De acordo com Pereira (2001), a ilegalidade contribui para a exclusão social e é agente do padrão de segregação espacial do meio urbano. A população de menor poder aquisitivo ocupa a periferia urbana e "regiões ambientalmente frágeis - fundos de vales, encostas, áreas sujeitas a inundações, áreas de proteção ambiental", principalmente se estas estiverem localizadas próximo às áreas "mais nobres" ou ao mercado de trabalho. A invasão de terrenos como solução, ainda que precária, da carência habitacional, pode ser observada tanto nas áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, quanto em cidades médias, como Londrina no Estado do Paraná (Ver figuras 1 e 2).
Figura 1. Município de Londrina no Estado do Paraná Figura 2. Área Urbana e Distritos do Município de Londrina
Microáreas de risco
Em Londrina, com o intuito de identificar áreas ocupadas irregularmente por populações de baixa renda, para que nelas se intensifiquem ações preventivas do poder público - no caso a Secretaria Municipal de Saúde -, foram determinadas e mapeadas microáreas de risco social.
Para a determinação dessas áreas, bem como do grau de risco social, foram feitas oficinas de trabalho com os coordenadores das Unidades Básicas de Saúde (UBS´s), entrevista com assistentes sociais da Secretaria de Assistência Social do Município e análise do documento "Situação das Favelas, Assentamentos e Ocupações Irregulares de Londrina", fornecido pela Companhia de Habitação (COHAB, 2002).
O setor de Geoprocessamento da Secretaria Municipal de Saúde realizou a digitalização dessas microáreas, por cada região da zona urbana do município. As áreas consideradas de maior risco social - ocupadas de maneira ilegal - foram espacializadas através de polígonos vermelhos. As áreas onde se observou risco social, devido à carência sócio-econômica, e falta ou ineficiência de infra-estrutura básica nos domicílios, porém localizadas em bairros legalizados, foram espacializadas através de polígonos amarelos e denominadas microáreas de alerta.
Na região norte da cidade de Londrina, observamos oito microáreas de risco e nove microáreas de alerta (figura 3). Além do número significativo de áreas de risco social, tratam-se de espaços de grande densidade demográfica (aproximadamente cinco habitantes por domicílio), se compararmos à densidade demográfica geral da cidade (3,4 habitantes por domicílio), segundo informações contidas no Cadastro do Sistema Único de Saúde, realizado no ano 2001, pela Secretaria Municipal de Saúde.
Destacamos ainda que, nesta região da cidade, as microáreas de risco se distribuem às margens dos Ribeirões Quati, Lindóia e Jacutinga e seus afluentes, e as microáreas de alerta se localizam em espaços mais carentes dos conjuntos habitacionais.
Figura 3. Localização geográfica de micro-áreas de risco social, por grau de risco, na Região Norte de Londrina- 2001.
Fonte: DIS/AMS/PML
Org.: Maria Angelina Zequim
Na região sul foram identificadas onze microáreas de risco e seis microáreas de alerta social (figura 4). A maior parte delas tem pouca expressão espacial. Consideramos importante destacar que na área localizada mais ao sul, estão dispostos os bairros que formam o grande núcleo "União da Vitória". Inicialmente ele foi um assentamento para sem-terras que no decorrer dos anos passou a receber população carente de outras regiões da cidade de Londrina, da sua área rural e de cidades vizinhas. O bairro em questão começou a ser ocupado em 1985 e em janeiro de 2001 já contava com 2026 famílias e um total de 11930 moradores. Com densidade populacional de aproximadamente seis habitantes por domicílio, na medida em que se expandiu espacialmente, foi recebendo o nome de União da Vitória II, III, e assim por diante.O mais recente é o núcleo União da Vitória VI. O principal eixo estruturante dessa ocupação não são rios, como na região norte, mas a rodovia - PR-445 - que parece limitar o avanço da implantação das moradias.
Figura 4. Localização geográfica de micro-áreas de risco social, por grau de risco, na Região Sul de Londrina- 2001.
Fonte: DIS/AMS/PML
Org.: Maria Angelina Zequim
A região leste da cidade possui treze microáreas de risco e sete microáreas de alerta (figura 5). Ela é caracterizada por várias pequenas favelas que se distribuem às margens do Córrego Água das Pedras e seus afluentes. As favelas de maior contingente populacional são: Santa Fé (ocupada a partir de 1992), Monte Cristo (ocupada desde 1997) e Rosa Branca (ocupada desde 1978). São áreas com saneamento básico insuficiente e ocupadas por populações bastante pobres.
Além do risco ambiental causado em decorrência da ocupação de fundos de vale nesta área da cidade, o risco social é agravado pelo domínio de grupos ligados ao tráfico de drogas e ao crime organizado. É bastante grande a freqüência de homicídios nesta região, veiculados através da mídia como "acerto de contas entre gangues rivais".
Figura 5. Localização geográfica de micro-áreas de risco social, por grau de risco, na Região Leste de Londrina - 2001.
Fonte: DIS/AMS/PML
Org.: Maria Angelina Zequim
Na região oeste, há oito microáreas de risco e quatro microáreas de alerta (figura 6). A área mais problemática dessa região é a que se localiza a sudoeste, próximo ao Jd Panissa. Trata-se de uma área que começou a ser ocupada em 1996 e que hoje abrange o "João Turquino", "Campos Verdes", "Maracanã I e II" e "Londriville". Somavam, em janeiro de 2001, um total de 1.839 famílias, na divisa municipal entre Londrina e Cambé. É uma população carente, que sofre a deficiência em saneamento básico e vive em moradias precárias.
Por se tratar de ocupação ilegal, em área de divisa municipal, a própria população tem certa dificuldade em discernir a quem solicitar auxílio. A maioria dos moradores possui prontuário médico tanto na Unidade Básica de Saúde de Londrina, quanto na de Cambe, município vizinho.
Figura 6. Localização geográfica de micro-áreas de risco social, por grau de risco, na Região Oeste de Londrina- 2001.
Fonte: DIS/AMS/PML
Org.: Maria Angelina Zequim
Na região centro, há cinco microáreas de risco e uma microárea de alerta (figura 7). As microáreas que consideramos mais problemáticas são a Favela Quati e a Vila Marízia, ambas localizadas próximo à rodovia BR-369.Outra característica comum a essas duas áreas é sua proximidade a fundos de vale. A Favela Quati, às margens do Ribeirão Quati, começou a ser ocupada em 1993 e, em janeiro de 2001, contava com 69 famílias. A Vila Marízia, localizada às margens do Córrego Bom Retiro, afluente do Ribeirão Quati, surgiu em 1995, e em janeiro de 2001 possuía 235 famílias.O Córrego Bom Retiro apresenta focos de Biomphalária glabrata e Biomphalária stramímea, ambos protozoários responsáveis pela esquistossomose, segundo vistoria realizada pela equipe do controle de endemias da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina.
Figura 7. Localização geográfica de micro-áreas de risco social, por grau de risco, na Região Centro de Londrina - 2001.
Fonte: DIS/AMS/PML
Org.: Maria Angelina Zequim
Tauil (2001, p.100) afirma que "cerca de 20% da população das grandes e médias cidades (da América Latina) estão vivendo em favelas, cortiços ou áreas de invasão". Sendo uma cidade média, Londrina não se afasta desse "padrão de ocupação". O saneamento básico, principalmente o abastecimento de água e a coleta de lixo são insuficientes ou inadequados nas periferias das grandes e médias cidades. Uma das conseqüências dessa situação é a criação e proliferação de determinados vetores e hospedeiros intermediários de algumas doenças.
Ocupações ilegais e aquisição de doenças
A presença de ocupações irregulares e ilegais em fundos de vale aumenta a possibilidade da população contrair doenças de veiculação hídrica, como as diarréias, hepatite tipo A eEsquistossomose. Ao mapearmos pontualmente os dois últimos agravos à saúde, por local de residência do paciente na cidade de Londrina, percebemos a grande incidência dessas doenças em áreas ocupadas ilegalmente, em especial em fundos de vale envolvendo as microáreas de risco já descritas.
Esquistossomose
A esquistossomose é uma doença que ocorre desde a Antiguidade. Em múmias do antigo Egito já se observaram lesões produzidas por este agravo à saúde. "A contaminação pelo protozoário, em humanos, ocorre com o contato em sua forma cercária, o que depende da presença de caramujos do gênero Biomphalaria que se desenvolvem em água parada ou com pouca correnteza" CASTRO & ZEQUIM (2002: 01). Essa doença ocorre em populações mais pobres, que utilizam as águas não tratadas de rios para o consumo diário (banho, alimentação, pesca, dentre outras atividades).
A doença, está inversamente relacionada à disponibilidade de saneamento básico, que tende a determinar a qualidade e condição ambiental nos centros urbanos.A instalação de favelas, assentamentos e ocupações irregulares às margens de rios urbanos contribuem notoriamente para a disseminação da esquistossomose, pois cria um cenário ideal de contágio e transmissão.
A "Esquistossomose mansônica é endêmica, em focos isolados, no norte do Paraná e a detecção dos casos é importante para a prevenção das formas graves e interferência na cadeia epidemiológica da doença" (CAMPOS, et. al. 2002: 325).
Com o objetivo de analisar a distribuição espacial dos casos confirmados de esquistossomose na área urbana de Londrina, e investigar uma possível associação destes com as micro áreas de risco social, realizamos o mapeamento dos casos da doença, notificados nos anos 1999, 2000 e 2001, por local de residência dos pacientes, utilizando como base cartográfica à malha viária urbana de Londrina. Sobrepusemos a esse mapa um layer dos rios urbanos (figura 8), o que nos possibilitou algumas reflexões.
Observamos, através do mapa, que no ano de 1999 houve notificação de casos de esquistossomose por quase toda a área urbana do município, excetuando-se o centro, havendo concentração de casos nas imediações do Jardim Franciscato - região sul, próximo ao Córrego Cristal e no Parque São Jorge - região norte. No ano 2000, houve concentração de casos em outras localidades, com acentuado aumento no Jardim e Favela Santa Fé, localizados na vertente direita do Córrego Água das Pedras - região leste da cidade. No ano 2001, o Jardim Santa Fé manteve seu quadro endêmico quanto aos casos confirmados, mas houve aumento substancial na Vila Marízia, localizada na vertente do Córrego Bom Retiro,e Jardim Progresso, localizado na vertente do Ribeirão Quati - região centro -, configurando um surto epidêmico. Todas essas áreas que apresentaram concentração de notificações e confirmações de casos de esquistossomose são coincidentes com as áreas consideradas micro áreas de risco social. Isso nos conduz a pensar que as micro áreas de risco social podem estar se configurando micro áreas de risco à saúde e ambiental.
Figura 8. Localização geográfica dos casos confirmados de Esquistossomose em 1999, 2000 e 2001 na área urbana de Londrina.
Os fatores facilitadores de contágio e manutenção do agente S. mansoni no ambiente são semelhantes nas áreas citadas: ocupações irregulares de terrenos (geralmente em favelas) e construção de moradias de baixa qualidade ou improvisadas, falta de água encanada e canalização de esgotos. Os rios servem como fonte de água para lavagem de roupas e utensílios domésticos, banho, lazer e pesca e recebem a descarga dos esgotos das casas construídas no fundo de vale. Em algumas localidades, observamos a horticultura irrigada com as águas desses córregos e a extração de minhocas para pesca, realizada por crianças, para venda nas margens das rodovias, com o intuito de incrementar a renda familiar.
A Secretaria Municipal de Saúde, através da equipe de controle de endemias, vem realizando um trabalho de limpeza dos rios e educação ambiental da população que vive às suas margens, para que o risco de infecção pela doença seja minimizado. Porém, acreditamos que o cerne do problema está calcado em questões estruturais, como a melhoria das condições econômicas e sócio-culturais da população que vive em áreas suscetíveis ambientalmente, geralmente coincidentes com áreas ocupadas ilegalmente.
Hepatite tipo A
A hepatite tipo A é uma doença cuja disseminação está ligada às más condições de saneamento básico. Sua transmissão se dá predominantemente pelas vias fecal-oral. O quadro clínico, segundo Foccacia (1999), é extremamente variável, indo desde casos assintomáticos até a clássica tríade icterícia, hepatomegalia e febre.
Desde 1996 a notificação da hepatite viral é obrigatória em Londrina, intensificando a constatação da infecção através de coleta de sangue e confirmação sorológica. Através da observação dos 398 casos confirmados de hepatite A no município, em 2000, percebemos um aumento de 181,13% de casos, se comparado a 1998, quando 106 casos foram confirmados. Isso pode ser resultante de uma melhor notificação, de maior proporção de casos sintomáticos ou de real aumento na incidência da doença, devido à insuficiência de aparatos de saneamento básico - distribuição de água de boa qualidade e sistema de esgoto - e piora de condições ambientais.
Assim como no caso da esquistossomose, realizamos o mapeamento dos casos confirmados de hepatite tipo A, pelo local de residência do paciente (figura 9), para analisar possíveis relações entre o local de residência dos doentes com as micro áreas de risco social.
Observando a distribuição geográfica dos casos confirmados de hepatite A em Londrina, verificamos que esse agravo à saúde está presente em todas as regiões da cidade, mas que sua espacialização não se dá de maneira homogênea.
Na região norte, há concentração de casos na favela do fundo de vale do Conj. José Belinati e no Conj. Violim. Na região sul, há um aglomerado de casos positivos da doença no núcleo União da Vitória e nos Jardins Franciscato, Cristal e São Marcos. Na região leste, a concentração ocorre no Novo Amparo, nas imediações do Jardim Santa Fé e demais ocupações às margens do Córrego Água das Pedras. Na região oeste, há inúmeros casos sobrepostos no Maracanã, João Turquino, Favela Nossa Senhora da Paz, Favela Vila Rica. Na região centro, os casos estão concentrados, principalmente, na Favela Marízia, no Quati e no Pindorama. Esses lugares onde ocorreu um aglomerado de casos de Hepatite A, são moradias de população de baixa renda ou nenhuma. Há deficiência de moradia, de saneamento básico, de alimentação e de instrução quanto a hábitos de higiene. Esses fatores contribuem para que a doença continue a se desenvolver naquele meio.
Figura 9. Localização geográfica dos casos confirmados de Hepatite A na área urbana de Londrina em 2000.
Para diminuir a incidência de hepatite A, sob o ponto de vista epidemiológico, uma alternativa seria a imunização da população sob risco. A vacina contra a hepatite A já foi classificada como segura para o uso em crianças e adultos, segundo CLEMENS (1999: 189). Mas acreditamos que se deva pensar nas reais condições que estão levando à epidemia. Esses são apenas alguns exemplos, mas a condição sócio-econômica e a influência do meio no qual as pessoas se inserem podem, ainda, interferir em vários outros agravos à saúde.
Os fatores sócio-econômicos podem interferir de outra maneira, talvez ainda mais cruel que a falta de infra-estrutura básica: a falta de alimentação adequada. O indivíduo que não a tomou ingere menos do que o necessário, sofre uma queda na resistência do organismo devido à desnutrição e fica mais suscetível à entrada de agentes patogênicos oportunistas, como os causadores da tuberculose e das diarreias. Essa temática é seriamente trabalhada por Castro em seu livro Geografia da Fome (1946), um dos pioneiros no Brasil a associar as condições sócio-econômicas às doenças provocadas pela subnutrição.
Considerações finais
Na atualidade, os pesquisadores que desenvolvem trabalhos de Epidemiologia relacionam a segregação espacial dos processos de saúde-doença às desigualdades sócio-econômicas. Através da utilização de informações contidas nos bancos de dados da Secretaria Municipal de Saúde e do uso de ferramentas computacionais de cartografia e geoprocessamento, bem como da realização de visitas aos locais evidenciados como problemáticos, do ponto de vista sócio-ambiental, buscamos instigar algumas discussões sobre a possibilidade do meio ambiente estar contribuindo ou não no processo de aquisição e proliferação de determinadas doenças.
Acreditamos que não compete apenas aos setores ligados à saúde a função de erradicar as doenças causadas por elementos do meio ambiente. As ações públicas e privadas, intersetoriais e interinstitucionais são necessárias, reunindo equipes que trabalhem interdisciplinarmente, na busca não somente de desenvolver ações mitigadoras, mas ações que atuem no cerne de questões estruturais, que concorrem para a origem dos problemas de saúde e ambientais supra citados. Além disso, ações que visem à melhoria das condições de saneamento e de tratamento da água, inclusive a usada, são essenciais. Fora da esfera de decisão da epidemiologia estão as questões relacionadas à distribuição de renda, níveis de emprego e de escolaridade.
Na busca de melhor entender o processo de saúde-doença em cada agrupamento humano, faz-se necessário entender o indivíduo em seu meio físico, biológico, social e econômico, bem como é necessária a observação das interações dos segmentos das sociedades humanas com o espaço geográfico onde estão inseridas. Se nós conseguirmos estabelecer uma relação de harmonia com o meio onde nos inserimos, estaremos dando grande passo rumo ao controle das epidemias que assolam os tempos modernos.
Bibliografia
ANDRADE, S. M.; SOARES, D. A. & CORDONI JR., L. (Org.). Bases da Saúde Coletiva. Londrina: Ed. UEL, 2001.
ÁVILA-PIRES, F. D. Princípios de Ecologia Médica. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2000.
Bulletin of the World Health Organization, 2000, 78 (9)
CAMPOS, J. S. A.; LIMA, L. H.; CASTRO, J. C.; ZEQUIM, M. A.; LIMA, A. A.; GUILHERME, G.; PALMA, R.; MENEZES, M. C. N.; MURAD, W. A. Controle da Esquistossomose mansônica em Londrina - Paraná. In: Revista Brasileira de Epidemiologia - Ed. ABRASCO. Supl. Especial, março 2002.
CASTELLS, M. 1972. La question urbaine.Livrarie François Maspero. (Trad. Port. de Arlete Caetano). A questão urbana. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.
CASTRO, C. E.; ZEQUIM, M. A. A esquistossomose no espaço urbano de Londrina - PR (no prelo).
CASTRO, J. de. Geografia da Fome. 9ª Ed.São Paulo: URUPÊS, 1965.
CLEMENS, S. A. COSTA; DE CLERCQ, N. A. M; CLEMENS, R; SAFARY, A. Hepatite A: uma doença possível de prevenção com vacina / Hepatitis A can be prevented with a vaccine. Pediatr. mod; 35(4):189-90, 192-3, 196-7, abr. 1999.
DUARTE, E. C. (et. Al.). Epidemiologia das desigualdadse em saúde no Brasil: um estudo exploratório. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2002.
FOCACCIA, R. Hepatites virais. In VERONESI, R; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. Ed.Atheneu. São Paulo. 1999
GUTIERREZ, P. R. & OBERDIEK, H. I. Concepções sobre a Saúde e a Doença. Em ANDRADE, S. M.; SOARES, D. A. e CORDONI JR., L. Bases da Saúde Coletiva. Londrina: Ed. UEL, 2001 (pág. 01-25).
LACAZ, C. S. Introdução à Geografia Médica no Brasil. São Paulo: Edgard Blücher/ Editora da Univ. de São Paulo, 1972.
LEFF, Enrique. Saber Ambiental - Sustentabilidade, Racionalidade, Complexidade, Poder. Petrópolis: R J. Vozes,2001.
MEDRONHO, R. Introdução à Epidemiologia. Ed. UFRJ, 2000.
MORAES, A. C. R. Geografia: pequena história crítica. 17ª Ed.. São Paulo: HUCITEC, 1999.
PEREIRA, G. A. A natureza (dos) nos fatos urbanos: produção do espaço e degradação ambiental. Desenvolvimento e Meio Ambiente. Ed. UFPR, n.º 3, p. 33-51, jan./jun. 2001.
RDNO. Registro de Doenças de Notificação Obrigatória. Secretaria de Saúde de Londrina / Dados.
RYLANDER, R. e MÉGEVAND, I (dir.). Introdução à medicina do ambiente. Lisboa, Instituto Piaget, 1993.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1994.
SEVALHO, G. Uma abordagem histórica das representações sociais de saúde e doença. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, 9 (3): 349-383, jul./set., 1993.
SINAN. Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Secretaria de Saúde de Londrina / Dados.
SNOW, J. On the pathology and mode of communication of cholera. Medical Times Gazette, Nov. 2 e 30. 1949.
TAUIL, P. L. Urbanização e ecologia do dengue. Cadernos de Saúde Pública. V. 17 supl. Rio de Janeiro: 99-102, 2001.
URTEAGA, L. Miséria, miasmas y micróbios. Las Topografias Médicas y el Estudio Del medio ambiente en el siglo XIX. Cuadernos Críticos de Geografia Humana. Año V. Nº 29 - Noviembro 1980.
© Copyright Marcia Siqueira de Carvalho y Maria Angelina Zequim, 2003
© Copyright Scripta Nova, 2003
Ficha bibliográfica:
CARVALHO, M. S. y ZEQUIM, M. A. Doenças infecto-contagiosas relacionadas as carências habitacionais na cidade de Londrina-Paraná - Brasil . Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146(113).
Agradecimentos ao site:http://www.infoescola.com/historia/imperialismo.
DOENÇAS CONTAGIOSAS QUE SURGIRAM NO DECORRER DA HISTÓRIA.
De acordo com os achados históricos, a palavra "sífilis" se originou de um poema chamado "Syphilis Sive Morbus Gallicus", de Girolamo Fracastoro. Esse poema conta que o protagonista, Syphilus, é castigado pelos deuses com uma doença horrível e repugnante, que o autor descreve como a sífilis.
A doença, causada pela bactéria Treponema pallidum, é transmitida principalmente pelo contato sexual, mas também pode ser passada de mãe para filho durante a gravidez, no momento do nascimento ou na amamentação, além de transfusões de sangue contaminado ou contato direto com as feridas.
A sífilis é um mal que acomete pessoas até hoje, porém tem tratamento. Durante séculos, tempos atrás, ela assustou e assolou parte da população, principalmente da Europa. Mas você sabe como a doença surgiu e se espalhou pelo mundo?
Histórico
Existem algumas teorias sobre a origem da sífilis. Uma delas conta que a doença pode ter sido documentada por Hipócrates na Grécia Antiga, em 600 antes de Cristo. Outra diz que ela já era uma doença antiga no Velho Mundo, mas era confundida com lepra e sofreu mutações que a tornaram mais contagiosa no século 16.
Porém, a teoria mais difundida, e talvez a mais correta, diz que a doença foi levada das Américas para a Europa pelo navegador e explorador italiano Cristóvão Colombo ou seus sucessores por volta de 1492. Um estudo recente realizado por uma equipe formada por especialistas de três universidades norte-americanas (Emory, Columbia e Mississipi) confirma essa tese.
De acordo com o artigo de Rob Knell, do The Conversation, a doença ganhou mais força no território europeu em 1495, quando ela teria sido disseminada por soldados do exército do rei Carlos VIII da França após eles retornarem de uma invasão bem-sucedida na Itália, tornando-se uma epidemia.
Na época, a doença foi descrita por algumas pessoas com detalhes nada agradáveis como feridas iguais a “furúnculos saltados como bolotas de cor verde escuro, acompanhados por um mau cheiro terrível e por dores tão severas que era como se o doente tivesse sido colocado em cima do fogo".
Além das lesões, a doença causa ainda danos ao sistema nervoso, ao coração, ao cérebro, aos olhos e ossos, levando à morte em muitos casos. Por isso era tão temida em uma época em que a medicina ainda estava engatinhando.
Os países jogavam a origem da doença uns para os outros. Por exemplo, os ingleses a chamavam de “mal francês”, enquanto os franceses a chamavam de “mal italiano” ou “doença napolitana”.
Além da teoria de Colombo, existe outra pesquisa recente que declarou que ossos encontrados na Croácia parecem indicar sinais de infecção por sífilis bem antes da época de Colombo, sugerindo que a doença estava lá desde os tempos do Império Romano. Porém, as evidências mostram o contrário.
Entre outras possíveis explicações para o surgimento da sífilis, existe ainda a que diz que ela evoluiu de uma doença menos virulenta que não era transmitida através de relações sexuais ou foi introduzida a partir da África. Porém, a teoria de Colombo continua sendo a mais convincente. Vamos verificar a razão.
Um importante estudo de 2008 sequenciou o DNA da bactéria que causa a sífilis e seus parentes próximos, apontando que a origem é das Américas de vários milhares de anos atrás. Um segundo estudo, utilizando sequência de DNA e de material paleopatológico, também apontou para uma origem no Novo Mundo em algum momento entre 16 mil e 5 mil anos atrás.
A epidemia europeia
A promiscuidade e as casas de prostituição na Europa fizeram com que a sífilis se espalhasse rapidamente no final do século 15 e início do 16, matando milhares de pessoas. Porém, surpreendentemente, após essa fúria inicial, a doença parece ter evoluído para uma forma menos virulenta, embora ainda muito grave.
Segundo o The Conversation, esta mudança evolutiva na virulência da sífilis é consistente com a sua incorporação a uma população desprotegida em 1495. A doença havia evoluído, sendo superada pelas defesas imunológicas de pessoas no Novo Mundo após alguns milhares de anos. Em seguida, ela infectou europeus sem tais defesas, e isso explica por que ela se espalhou como fogo.
O rápido declínio na virulência após a explosão inicial de casos provavelmente aconteceu porque a principal via de propagação é o contato sexual, o que significa que as estirpes da doença que não causavam as pústulas gigantes verdes e o mau cheiro teriam tido uma chance muito maior de transmissão (pois não eram tão percebidas pelas pessoas) e suplantaram as cepas altamente virulentas originais em pouco tempo.
Mas se as evidências científicas já estão tão esclarecidas, por que existem ainda controvérsias sobre a origem da sífilis?
A terceira linha de evidências
Essa terceira linha se volta a achados arqueológicos: ossos de crânio com corrosão característica e ossos longos com deformações que podem denunciar que certo indivíduo foi acometido por alguma forma de sífilis.
De acordo com o The Conversation, aparentemente, todos os anos alguém encontra um esqueleto de um período antigo em algum lugar na Europa que parece ter mudanças sifilíticas, o que faz alguns especialistas alegarem que a doença poderia estar presente na Europa antes de Colombo.
Entre essas ossadas, estão a de gêmeos de Pompeia e, mais recentemente, o esqueleto encontrado na Croácia, que tem um fêmur deformado. Se estes tinham inquestionavelmente alterações sifilíticas no corpo, eles realmente desafiam a hipótese de Colombo. Porém, como distinguir a sífilis de outra patologia esquelética?
Uma parte do problema é que outras doenças causadas pelas bactérias estreitamente relacionadas com Treponema pallidum também podem causar alterações semelhantes, e é extremamente difícil fazer distinção entre elas.
Uma análise de todos os pedidos sobre mudanças causadas pela bactéria Treponema em material esquelético pré-colombiano da Europa não encontrou casos que poderiam conclusivamente refutar a hipótese, as reivindicações não foram bem suportadas ou o registro temporal do material foi questionável.
No caso do esqueleto na Croácia, parece que apenas o fêmur foi afetado. Vários cientistas sugeriram que o osso pode muito bem ter sido apenas afetado por uma doença chamada de displasia fibrosa em vez de sífilis.
Portanto, contando com as evidências de todas as pesquisas de DNA sequenciado apoiando a hipótese de Colombo, será difícil ir contra ela sobre a origem da doença.
Nenhum comentário:
Postar um comentário