quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

FIM DA ESPANHA SUL – AMERICANA.

FIM DA ESPANHA SUL – AMERICANA.

Governar a distância dá muita dor de cabeça. Especialmente quando a colônia fica em outro continente e a comunicação mais rápida com a metrópole é a caravela. Pensando nisso é que a Coroa Espanhola decidiu dividir suas possessões na América em vice- reinados,entregando a administração deles a nobres da Espanha,gente da mais alta confiança.
Na América do sul do século XVIII havia três desses vice-reinados; Nova Granada,Peru e Prata. Subordinadas respectivamente a Nova Granada e Peru, havia duas subdivisões territoriais: as capitanias gerais da Venezuela e do Chile. Era assim que o rei da Espanha controlava suas terras sul- americanas.
E seu poder era exercido não só por intermédio dos vice-reis e dos funcionários administrativos. Também os membros da igreja eram agentes da autoridade real,ajudando a manter a população submissa á Coroa e convertendo –a ao cristianismo.
As terras americanas eram ricas em minérios e a Coroa Espanhola procurava tirar daí o maior proveito reservava para si o monopólio da extração de ouro e prata e concedia a particulares o direito de explorar os outros minerais. Mas para dar essas concessões cobrava pesado tributo: um quinto da produção pertencia á Coroa.

Crioulos, uma força.
Os verdadeiros donos da economia local eram realmente os crioulos (criollos),filhos de europeus, mas nascidos na colônia. Eram donos de grandes fazendas – as estâncias – e tinham a seu serviço grande número de indígenas e negros africanos. Os crioulos, apesar de constituírem a elite intelectual, não tinham acesso aos cargos administrativos. Para esses postos havia espanhóis vindos diretamente da metrópole.
Assim, a aristocracia crioula era obrigada a submeter-se ás ordens dos administradores, que eram fiéis aos interesses da Coroa. Acontece que, com o tempo, esses interesses foram ficando cada vez mais contrários aos dos crioulos, que se iam sentindo economicamente esmagados pela metrópole. Por isso, eles seriam os grandes responsáveis pela eclosão dos movimentos de independência na América do Sul espanhola, onde usariam como massa de manobra a grande legião de índios, negros e mestiços.

Ecos da Europa.
O século XVIII já assiste a diversas revoltas contra a Espanha, todas denominadas. Mas o espírito de rebeldia se intensifica. Por toda parte há insatisfação contra a metrópole. Nas minas e nas fazendas, a palavra de ordem é independência. E os numerosos contatos comerciais, que apesar da proibição eram mantidos, permitiram que as idéias de libertação tomassem corpo entre a elite intelectual. Através desses contatos, chegavam as notícias da revolução liberal da França, da independência dos Estados Unidos da América do Norte. Era um incentivo maior para o levante na colônia espanhola.
Em 1796,forma-se uma aliança entre a França e a Espanha,que terá importantes reflexos na América do Sul. A Inglaterra, em guerra coma França, está agora também em guerra com a Espanha. Sua poderosa esquadra domina o mar e apropria-se do comércio, rompendo as comunicações marítimas entre a Espanha e a colônia.
E é assim que os ingleses apóiam os inssurretos americanos. Em 1806, colaboram em duas tentativas de levante na Venezuela. Os movimentos não tem êxito,mas revelam um líder nacional: Francisco Miranda. Ao mesmo tempo, os ingleses estão também no Sul, provocando a revolta contra os espanhóis em Buenos Aires. Ainda aqui vão mal: são rechaçados pela própria população.
Enquanto isso, as coisas estão mudando na Europa. Em 1808, os franceses invadem a Espanha, o Rei Carlos IV e seu filho Fernando VII abdicam e cedem o poder a Napoleão, que coloca no trono seu irmão José. O povo espanhol não aceita o jugo: uma junta inssurrecional constitui-se em Sevilha, e representará por seis anos a Espanha livre.

Napoleão, uma mudança.
Napoleão quer conquistar popularidade na América,mas os emissários que envia para obter aliança com os espanhóis de além –mar não conseguem êxito. Uma após outra as possessões espanholas americanas vão-se colocando ao lado da Junta de Sevilha. Inteligentemente, os crioulos associam-se aos espanhóis da colônia, dando força ao movimentos antifrancês; e aproveitam para dar ao levante um caráter separatista.
Impotente para dominar a América espanhola, Napoleão muda de tática. Passa a incentivar a independência da colônia, para criar problemas á Espanha. Para isso, recorre a agentes instigadores. Um destes Desmolard, ficou conhecido por ter provocado um movimento que irrompeu em abril de 1810,em Caracas. E em março do ano seguinte, um congresso reúne os cabildos venezuelanos e depõem o governo. É proclamada a independência, em dezembro, Quito segue o exemplo de Caracas.
Buenos Aires, que em 1809 aceitara o vice –rei designado pela junta de Sevilha, derruba- o no ano seguinte e elege uma junta que agrupa os principais elementos crioulos. Do estuário do Prata,a revolta irradia-se para a Bolívia,Paraguai e Uruguai. Aos espanhóis resta somente o Peru.
Eles agora estão mal e tentarão recuperar o terreno perdido. Na Europa estão melhor, pois a junta de Sevilha começa a expulsar os franceses da Espanha, com a ajuda da Inglaterra.

Bolívar, uma esperança.
Se a Espanha vai-se fortalecendo, no mesmo ritmo as colônias que proclamaram sua independência vão –se debilitando. Falta ajuda externa, o isolamento geográfico impede a coesão e, o que é o pior, os revolucionários já manifestam entre si sérias divergências.
Assim, pouco depois da independência , a Venezuela é sacudida por uma guerra civil. Miranda, que fora nomeado ditador do país,é deposto e substituído por Monteverde, comandante do exército real. O movimento de libertação está abalado, mas continuará,liderado agora por um extraordinário líder. Nasceu em Caracas e seu nome é Simon Bolívar(1783- 1830).
De volta da Inglaterra, aonde fôra pedir apoio, Bolívar organiza um pequeno exército e consegue libertar a cidade de Cartagena(em Nova Granada), em fevereiro de 1813.
Mas não para: já em maio parte para a conquista da Venezuela. Entra em Caracas em agosto e derrota Monteverde. Em janeiro de 1814,ganha o titulo de “libertador”, outorgado pela municipalidade de Caracas.
Mas a segunda república venezuelana terá a mesma sorte que a primeira. As tropas reais reconquistam terreno, Bolívar não consegue manter-se em 1815 embarca para Jamaica.

1815, um ano espanhol.
O ano de 1815 é mau para os rebeldes. A monarquia foi restaurada na Espanha, e a metrópole agora quer conter os inssurretos da colônia. E manda considerável reforço para as tropas reais: 56 naus trazem mais 10 mil homens, comandados pelo General Morillo. Com isso, a Espanha triunfa em Nova Granada, bate a junta que se formara em Santiago do Chile, reconquista a Venezuela. No Sul, a sorte dos rebeldes é pouca coisa melhor. Apesar do assédio espanhol a Buenos Aires, eles conseguem manter-se, mas não tem condições de alargar suas bases. Uruguai, Paraguai e a região de Charcas(na Bolívia) estão nas mãos dos realistas.
O ano de 1815 termina com a Espanha praticamente dona da situação. Vencedores, os realistas impõem um regime de terror. Os principais rebeldes são executados sumariamente, há deportações e confiscos em massa.

Regresso do Libertador
Mas o panorama mudaria outra vez. Bolívar está Jamaica,mas não descansa. Com a ajuda britânica, ele compõe um pequeno exército e desembarca na costa venezuelana em janeiro de 1817. auxiliado por camponeses e engrossando a tropa com mercenário ingleses e irlandeses,ele segue de vitória em vitória. Depois de dominar a maior parte do vale do rio Orenoco,Bolívar lança-se com 2500 homens e uma audaciosa empresa: atravessa os Andes,penetra na Colômbia pelo vale do Madalena e esmaga o inimigo. Em agosto, domina, com o que possibilita a formação dos Estados Unidos da Colômbia, recebendo os poderes de presidente e ditador militar.
Bolívar anima-se, o inimigo enfraquece-se. O libertador arremete agora sobre a Venezuela,conquista Caracas e a 30 de agosto de 1821 nasce a 3ª república nesse país. Bolívar é o presidente.
E a 24 de maio de 1822,Antônio José Sucre, seu lugar-tenente,conquista Quito que, juntamente com a Colômbia e a Venezuela,formará a Grande Colômbia, sob a presidência do Libertador.

A Travessia dos Andes

No Sul,as coisas melhoraram para os rebeldes em 1816,quando,na Prata monarquistas e republicanos, depois de muita briga,acabaram unindo-se conta os espanhóis.
A 9 de julho daquele ano, um congresso proclamava a Declaração de Independência das Províncias Unidas da América do Sul. Mas nem o Paraguai nem a Banda Oriental (Uruguai) estariam presentes no congresso. E a região de Charcas continuava dominada pelos espanhóis. Os rebeldes do sul precisam de um líder, e ele surge é o oficial argentino José de San Martín (1778-1850).
San Martín,em 1815, sai da cidade de Mendoza comandando poderoso exército e, a exemplo de Bolívar,lança-se através dos Andes,numa ação que, como a do libertador,ficará famosa pela audácia. Ultrapassando um desfiladeiro a 4200m de altitude, suas tropas entram no território chileno e unem-se as do líder do local Bernardo O’Higgins(1778-1842). Vencem os realistas em Chacabuco e O’Higgins é nomeado ditador supremo do Chile.
Mas a luta não termina aí,passaram-se dois anos de embates, antes da vitória de Maípu, que é decisiva. Em 1818, o Chile é declarado Estado livre e soberano.

Peru, uma trincheira
Falta ainda conquistar o Peru, os espanhóis,entrincheirados a 3 e 4 mil metros de altitude,constituem séria ameaça a precária independência dos ex-vice –reinados de Nova Granada e do Prata. Com o auxilio da esquadra inglesa de Lorde Cochrane,San Martin – desembarca suas tropas nas costas peruanas no inicio de 1821. os espanhóis são batidos em Lima e a independência é proclamada,mas será duro mantê-la, nas montanhas, a resistência espanhola vai-se reorganizando enquanto isso acontece, Bolívar progride em direção ao sul.
Em julho de 1822,os dois grandes chefes- Bolívar e San Martin- encontram-se finalmente, em Guaiaquil,lutam pela mesma causa,mas não conseguem um entendimento. San Martin retira-se da luta e vai terminar sua vida na Europa onde morrerá em 1850. A Bolívar competirá a tarefa de continuar a luta pela independência.

Espanha, o último alento
Os espanhóis reogarnizam-se como podem, nas montanhas, e conseguem retomar a cidade. E além da capital peruana, eles mantem ainda outro importante baluarte, a cidade de Callao.
Mas essa alternativa de vitória é na verdade, o último alento das forças brasileira.
Tanto assim em 9 de dezembro de 1824,Sucre,bravo lugar-tenente de Simon Bolívar esmaga definitivamente a resistência espanhola em lima. E a 18 de janeiro de 1826, a guarnição de Callao,que já resistia havia dois anos, decide render-se.
Depois de um século de luta, a América do Sul colonizada pela Espanha estava livre.

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