domingo, 27 de novembro de 2011

A BARCA DO SOL




A BARCA DO SOL
Assim que Amon-Rá abre a pálpebra, o dia começa. A noite cai logo que ele a fecha. Amon – Rá desperta no oriente, onde duas divindades preparam-no e depois o conduzem até sua barca de ouro, de setecentos e setenta côvados * de comprimento. Conduzido por uma tripulação muito hábil, o barco afasta-se e, escoltado pelos deuses, desliza silenciosamente sobre as ondas do oceano celeste. Percorre o céu ao longo do dia e vai distribuindo calor e luz pelo mundo

De seu palácio, na cidade de Heliópolis, onde também é chamado de Aton, o deus Sol reina sobre a terra do Egito e concede-lhe incontáveis benefícios. Mesmo quando chora, seu pranto representa um dom para a humanidade. Cada lágrima, transformada em abelha, fabrica cera e mel, tão necessário aos egípcios na alimentação e no preparo dos medicamentos. Aliás, Rá é muito atento ao sofrimento dos homens, compadece-se deles e está sempre disposto a arbitrar suas frequentes discussões. Ensina-lhes fórmulas mágicas contra répteis e feras, bem como encantamentos que os protegem dos maus espíritos. Ajuda a curar as doenças. Seus enormes poderes fazem de Amon – Rá o rei do mundo e o mais venerado dos deuses.

OS MUNDOS SUBTERRÂNEOS
Quando os céus escurecem, a barca de Rá desaparece no ocidente, afastando –se do mundo visível. Imediatamente o deus abandona a forma humana que apresenta durante o dia e ganha uma cabeça de carneiro, com longos chifres recurvados. Seu barco atravessa uma vasta região selvagem e desolada, que separa do reino dos vivos o reino dos mortos – é o Amanti, o mundo subterrâneo. Nesse lugar sombrio, o barco vai atravessar, uma após a outra, as doze portas da noite: cada uma representa o passar de uma hora. Quando com infinita lentidão, os tripulantes conseguem levar o barco para além dos desertos áridos, Rá chega finalmente ao império dos deuses subterrâneos, que o acolhem com deferência . em seguida, os deuses oferecem a Rá quatro barcos, para que possa saudar Osíris, que reina sobre os mortos. Na décima terceira hora, Rá atinge o domínio do deus Osíris. Na margem, os mortos aclamam-no com alegria e rebocam seus barcos.



Depois de atravessar várias portas, o sol penetra nas cavernas do ocidente, onde sob as ordens de Osíris, quem domina é Socáris. Ali as trevas são absolutas. O olho de Rá nada distingue, apesar de seu poder sobrenatural; os mortos também não podem mais enxergar o deus resplandecente.
Nesse ponto, o rio está infestado de serpente, que se confunde com a massa agitada de répteis e consegue passar facilmente. Outros garantem que ele não modifica nada, mas coloca seu navio sob a proteção de Mehem, a serpente divina. Tudo acontece em meio a uma escuridão tão profunda que se pode compreender que os homens deem explicação tão diferente para esse episódio. O que importa é que o Sol deixa são e salvo essa zona perigosa, e em seguida sua barca avança lenta e facilmente. Dois peixes seguem, um de nadadeiras cor -de -rosa e outro de nadadeiras lápis – lazúli. De repente, eles lançam um alerta, e Rá percebe que é chegada a hora de enfrentar seu pior inimigo.

Realmente, ora brotando do fundo do abismo, ora enrodilhada em torno de um pico rochoso, ergue-se a silhueta ameaçadora e gigantesca da serpente Apópis, um monstro de quatrocentos e cinquenta côvados, que ataca o Sol toda manhã e todo entardecer. Se for derrotado, Rá desaparecerá, e uma desordem inimaginável se instalará no universo. De certo modo será o fim do mundo, a morte definitiva de todo o cosmo. No decorrer desse combate, Rá precisa usar todo os seus poderes mágicos. Ás vezes, quando os dois se defrontam, o imenso corpo de Apópis esconde o grande Rá. Nesse momento, o sol para de brilhar, e os homens assistem a um eclipse. Rá no entanto, sempre consegue vencer o terrível réptil, que não desanima: o monstro sempre volta ao ataque.
A vitória do deus Rá é o auge de sua navegação noturna e subterrânea. Ao atravessar uma porta monumental, o sol volta a brilhar no mundo dos vivos. Para grande alegria dos homens, o dia finalmente renasce.

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