sábado, 4 de dezembro de 2010

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Um conto de Natal

A manhã acordou gélida. Um manto cobria de geada os campos em redor. O céu mantinha-se teimosamente encoberto, não deixando o sol espreguiçar-se por entre as nuvens acinzentadas.

José ergueu-se bastante cedo, dirigiu-se às cortes e foi cuidar dos animais. Depois regressou a casa e, enquanto Maria preparava o pequeno-almoço, parou junto de uma das janelas da sala de jantar. Olhava através da vidraça embaciada a paisagem melancólica do lugar. Num ponto distante, uma chaminé fumegava. Outras casas, porém, mostravam-se vazias. Os seus donos partiram há muito e apenas regressavam no Verão, por ocasião dos festejos à santa padroeira.

Com efeito, os mais novos partiram e ficaram os velhos entregues às lides da lavoura. A guardar os campos e a tratar das vinhas. Ele resolveu ficar.

Trabalhava de carpinteiro mas, agora que os tempos são outros e os grandes armazéns fazem concorrência, o trabalho escasseia e José receia ficar desempregado. Como sempre, Maria trata da casa, dos animais e ainda vai zelar as leiras que ainda são o principal sustento da casa.

Na povoação já não se ouve o chilrear das crianças – o governo mandou fechar a escola e, as poucas que ainda restavam, tiveram de ser transferidas para outra escola que fica a muitos quilómetros de distância. As gentes são idosas e já não podem trabalhar. De tempos a tempos, aparece um espertalhaço a querer comprar os terrenos por dois cêntimos…

Naquele dia, Maria e José revelavam uma certa ansiedade. Emanuel, seu filho, casara havia dois anos e partira para França com a mulher. Agora, Madalena, a nora, encontrava-se internada num hospital dos arredores de Paris e aguardava o nascimento de um filho. Se tudo corresse bem, Maria e José iriam ser avós. Por essa razão, o filho avisara antes que não viria passar o Natal com os pais. Sem eles, a terra ficava ainda mais triste, quase sem ninguém – como outras aldeias do interior, também esta estava a ficar abandonada!

Emanuel trabalhava como picheleiro enquanto Madalena fazia trabalhos domésticos em casas particulares. A princípio, sentiram bastante dificuldade, particularmente na adaptação ao idioma. Mas, com o tempo, ultrapassaram as dificuldades e até se sentiam particularmente felizes.

Depois de tomarem o pequeno-almoço, prepararam-se para irem à missa. Era dia de Natal e não queriam faltar à celebração. Contudo, não arredavam pé de junto da pequena mesa onde se encontrava o telefone. Aguardavam algum telefonema que lhes trouxesse a notícia porque tanto ansiavam. O tempo corria devagarinho. Os ponteiros do relógio da sala cadenciavam uma eternidade. De repente, toca a campainha do telefone e Maria precipita-se para ele. José também se aproxima. Do outro lado da linha, Emanuel dava-lhe a notícia que os faria ainda mais felizes: nasceu um rapaz. Saudável. Robusto. Chamar-se-ia Dominique.

Naquele instante, o sol rompeu por entre as nuvens e, acariciando a terra, estendeu os seus raios solsticiais a anunciar o evento. Uma vez terminada a conversa ao telefone, José e Maria apressaram-se a sair de casa. Não queriam chegar tarde à igreja: o senhor abade ia dar a beijar o menino.

- Era dia de Natal! (Carlos Gomes - Cacém)

Retirado de «Falcão do Minho»