sábado, 18 de dezembro de 2010

Uma cantiga provençal.

Pelas poesias provençais que se preservaram,conhecemos cerca de quinhentos trovadores da Provença,que poetaram ao longo do século XII e XIII. No conjunto de suas obras, é possível distinguir duas grandes correntes: a dos adeptos de trobar leu, estilo claro, simples, direto; e a corrente dos poetas que procuravam trobar clus, isto é, de modo mais rebuscado e obscuro. Para exemplificar a poesia provençal,selecionamos alguns versos de Jaufré Rudel, trovador filiado à primeira corrente, a do estilo claro.
Original
Quan lo rossinhols el folhos dona d' amor é quier
e'n pren e mon son chan jauzente jyos e remira sa par saven;
e'l riu son clar e'l prat son gen, pel novel deport
que renha, mi ven al cor grans joys jazer...

Transposição ao português moderno.
Quando o rouxinol entre as folhagens cede ao amor, chama - o
e acolhe-o, e lança seu canto portador de alegria, e contempla à vontade sua companheira;
quando os riachos são límpidos e os prados floridos dessa alegria nova que reina em toda parte,
uma grande alegria me invade o coração.
UMA CANTIGA DE AMIGO.
Os versos seguintes, se D. Dinis, Príncipe poeta, constituem um exemplo de paralelística,
estrutura formal muito empregada na cantiga de amigo. A particularidade da paralelística é que as estrofes são constituídas de dois versos e ligadas por um refrão. Os versos mantêm sempre a mesma construção e se repetem quase iguais, com substituição do último têrmo.
Original.
Ay flores! ay flores do verde pyno!
Se sabedes novas do meu amigo!
Ay Deos! E hu é?
Ay flores, flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado!
Ay Deos! E hu é?
Se sabedes novas do meu amigo!
Aquel que mentio do que pos comigo!
Ay Deos! E hu é?

Tradução.
Ai flôres, flôres do verde pinho!
Se sabeis notícias do meu amigo!
Ai Deus! E onde está?
Ai flôres, flôres do verde ramo!
Se sabeis notícias do meu amado!
Ai Deus! E onde está?
Se sabeis notícias do meu amigo,
Aquele que me mentiu no que me jurou!
Ai Deus! E onde está?
Se sabeis notícias do meu amado,
Aquele que mentiu no que combinou comigo!
Ai Deus! E onde está?
UMA CANTIGA DE AMOR
Paio Soares de Taveirós não podia falar de seu amor à dama de seus pensamentos. Pois ela, Maria pais Ribeiro, era a favorita do Rei Sancho I. Assim, o poeta extravasou sua emoção e suas mágoas numa cantiga de amor: é a canção da Ribeirinha, o mais antigo documento literário em língua portuguêsa. Foi escrita em 1189 e encontra-se hoje entre as cantigas que englobam o cancioneiro da ajuda.
Original.
Com'ome que ensandeceu,
senhor,com gran pesar que viu
e nom foi ledo nem dormiu:
Ay, mia senhor, assi moir' eu!

Tradução.
Como alguém que enlouqueceu,
senhora, com as grandes dores que viu,
e não foi feliz e nem dormiu
e depois, minha senhora, morreu:
Ai, minha senhora, assim morro eu!


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