segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Geografia

Grandeza e miséria rio abaixo.

O aproveitamento dos rios brasileiros é bastante modesto – sobretudo comparado ao de rios de outras partes do mundo - ,por outro lado eles desempenharam importante papel na definitiva formação do território nacional.

Ao norte do Brasil, por exemplo, a Bacia Amazônica foi um dos mais relevantes fatores da expansão territorial. A delimitação geográfica dessa área foi possível - entre outras coisas – porque os portugueses conquistaram o controle da foz do Amazonas e penetraram para o interior da região, utilizando-se para tanto dos cursos de água navegáveis. Pois quase todos os rios da rede amazônica oferecem condições de navegabilidade. No Sul do Brasil, os rios Paraná, Paraguai e Uruguai (bacia do prata) explicam sua conformação afunilada e formam o limite natural entre as terras das antigas dependências portuguesas e espanholas. Nessa região internaram-se os portugueses partindo de zonas de cabeceiras, enquanto os espanhóis o fizeram a partir da foz. Por isso, os trechos de planalto, nessa área, tornaram-se portugueses, e o das planícies espanhóis.

A função do São Francisco, rio inteiramente brasileiro por sua posição, foi sobretudo a de articular as terras setentrionais com as meridionais. Orientando em sua maior parte no sentido sul-norte, constitui uma via de passagem, definindo-se durante séculos como o principal eixo viário entre áreas do Nordeste e do Sudeste. Assim, contribuiu também para a determinação do território nacional.

A história do São Francisco.

O vale do São Francisco está ligado ao processo de povoamento e a valorização da terra pelos europeus desde o inicio da colonização. A partir de 1501, ano em que sua foz foi atingida por André Gonçalves e talvez por Américo Vespúcio, a abundância do pau – brasil existente nas vizinhanças passou a atrair franceses e portugueses.

Durante todo o século XVI, várias expedições exploradoras vasculharam o Vale do São Francisco, partindo ora de Olinda, ora de Salvador. Na centúria seguinte, a região constituía passagem para o gado e mercadorias diversas, que se destinavam aos sertões do Piauí e as demais terras próximas. Surgiram então pequenos centros urbanos. Mas só a partir de fins do século XVII iniciou-se um povoamento sistemático do Vale do São Francisco, realizado principalmente por pernambucanos , baianos e paulistas. Na Bacia Superior, os paulistas descobriram grandes riquezas minerais, sobretudo o ouro. A região logo se tornou densamente povoada; transformou-se ,assim , em importante centro consumidor e estimulou a criação de gado já existente no vale Médio. Completavam-se mutuamente a civilização das minas e a do couro, efetuando a integração econômica de uma área cujo devassamento e povoamento se fizeram a partir de diversos pontos. Nesse sentido, o São Francisco foi de fato o “ rio da unidade nacional” , como é chamado : por seu intermédio , no século XVIII se uniram, direta ou indiretamente, o núcleo econômico seiscentistas com o núcleo econômico setecentista da colônia.

O homem da ribeira

A vida dos barranqueiros – habitantes das margens do São Francisco – depende estreitamente do regime do rio. Na passagem do período das cheias (fevereiro – abril) para o da vazante, os barranqueiros aproveitam a fertilidade do solo para praticar a agricultura de subsistência ; além disso, pescam para o próprio consumo, ou vendem lenha aos vapores que navegam no curso médio. Mas na época das cheias sua situação é terrível. As águas invadem as margens menos elevada, arrebatando de uma hora para a outra, casebres e animais e roças. Os barrancos muitas vezes desmoronam, solapados pelas águas. Na estiagem, o rio retorna ao leito, deixando atrás de si uma enorme massa de sedimentos de matéria orgânica, que fertilizarão o solo para novo plantio. É um reinicio, até que as águas voltem e o pesadelo recomece.

Mesmo na estiagem, época de fartura, o barranqueiro tem sua capacidade de trabalho reduzida pela maleita, que assola o Vale após a descida das águas. Não só a maleita o ataca. Com ela costumam vir também o impaludismo, a opilação, o mal de Chagas, o cansaço, a fraqueza, o desespero.

Findo mais um dia de difícil trabalho, o barranqueiro se recolhe a sua casa: geralmente baixa e pequena, construída de madeira e barro, coberta de palha ou casca de árvore. Dentro, tamboretes, catres, banquinhos, gamelas, sacos de farinha compõem o mobiliário da sala. Na cozinha, o fogão e a almofada de bilros. No quarto, esteiras no chão, onde as moças tecem rendas. Circundam a casa pequenas plantações de feijão e milho, melancia e arroz, cana- de- açúcar e mandioca, que chegam para o gasto. E algumas pilhas de lenha, que com alguma sorte, serão vendidas ao primeiro vapor que aparecer.

A comida é feijão farinha de mandioca, peixe, torresmo carne- de- sol, rapadura. De vez em quando carne –de- bode. A refeição geral é a do meio- dia, a “jacuba”, composta de farinha de mandioca, rapadura e água. Os que trabalham na extração de lenha ou no rio como remeiros fazem ainda mais duas refeições, pela manhã e a noite.

A família é grande. Cinco crianças em média. Assim mesmo, as mulheres, além das tarefas domésticas, trabalham também na roça. É que a miséria castiga ali há mais de um século. E a vida é curta: dificilmente ultrapassa a média de 45 anos.

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